Berlim até o chão, chão, chão

Berlim até o chão, chão, chão

Trio musical La By’Le mistura ritmos como funk, hip hop e rap para cantar, com humor, as venturas e desventuras da adaptação de imigrantes à vida na capital alemã. Primeiro EP será lançado no dia 23 de novembro.

Berlim. Sábado, 30 de junho de 2018. Centenas de pessoas dirigem-se para uma festa em uma casa noturna no bairro de Wedding, no norte da cidade. Nas primeiras horas da noite, a playlist já faz o local parecer um reduto do Brasil no exterior. Mas é quando o trio entra no palco que a festa se transforma em uma espécie de baile funk em plena Alemanha. A La By’Le (lê-se “la baile”) fazia ali seu primeiro show.

A banda nasceu em 2017, após um intercâmbio musical entre a cantora Tâmera Vinhas – natural do Rio de Janeiro, morando em Berlim desde 2013 – e o rapper, cantor e produtor Cara Muru – também residente na capital alemã, mas natural de Bremen, na Alemanha, com origem brasileira. Ambos queriam trazer para Berlim a cultura do Baile Funk, misturando o clima de autoestima e celebração típico das festas surgidas nos morros cariocas com outras influências, como o hip hop alemão, a afro music, o tecnobrega e o slow reggaeton. Para isso, compuseram singles como Kottibuceta e Total Broke.

“Não nos levamos muito a sério”, diz Cara Muru, “utilizamos humor, sarcasmo e ironia em nossas letras.” Kottibuceta, por exemplo, tematiza as dificuldades de brasileiros com o idioma alemão a partir de uma tentativa de combinar, por telefone, um encontro na estação de metrô “Kottbusser Tor”, um nome difícil de pronunciar. Já a letra de Total Broke mistura frases em português e alemão e faz referências a um funk clássico de Mc Naldinho, Um tapinha não doi. Um mix de influências e idiomas que reproduz de forma divertida as confusões de imigrantes tentando se adaptar à vida no exterior.

Luana Madikera, também conhecida como Madame Royal, entrou para o projeto logo em seguida. Dançarina de origem francesa e caribenha, ela enriqueceu as performances do La By’Le com seus movimentos de afrohouse, contribuindo ainda com os backing vocals. A ideia agora é que ela também protagonize algumas músicas: com isso, as novas canções misturarão não só alemão e português, mas também francês. “Queremos divertir as pessoas e proporcionar uma incursão em outros estilos musicais”, diz Luana. A interculturalidade dos músicos reflete assim a atmosfera de Berlim, uma cidade na qual 25% dos moradores não são cidadãos alemães. Com suas canções, o trio mostra como integração não precisa ser um processo complicado: culturas podem se misturar de modo natural e criativo.

Além da diversão proporcionada pela música e pela dança, La By’le tem um viés politizado, posicionando-se contra o machismo, o racismo e a homofobia – ainda que essa postura não seja colocada de forma explícita nas letras. O ativismo fica evidente não pelo que é cantado, mas pelo que se optou por não cantar. “A letra do funk carioca clássico muitas vezes aborda temas como violência, sexismo e drogas”, diz Tâmera, reiterando: “nós não aceitamos músicas com teor de apologia ao estupro e muito menos de desrespeito à liberdade da mulher de escolha. Queremos falar sobre outras coisas.” A La By’Le encontra inspiração em cantoras de funk como MC Carol Bandida, Linn da Quebrada e Tati Quebra-Barraco, dedicando uma atenção especial para a visibilidade da mulher negra. “Elas deixam claro que o espaço da mulher é onde ela quiser”, diz Tâmera.

O primeiro EP da banda será lançado no dia 23 de novembro, na Badehaus, em Berlim (Revaler Str. 99, Raw Gelände). A festa “La By’Le meets Angola” contará com a participação de três convidados: Mc Diamondog, de Luanda, e os DJs brasileiros Rodrigo da Matta e Marla Roots. Um encontro eletrizante com os ritmos do país lusófono, para gringo nenhum botar defeito.

Contatos:
Facebook: www.facebook.com/labyleband
Instagram: www.instagram.com/labyleband
Shows: Julia@konsekvent.com
Imprensa: labyleband@gmail.com