Carol Naine, a antítese do clichê

Carol Naine, a antítese do clichê

Por Gabriel Borges

Peço a permissão – ou o perdão – de iniciar-me neste espaço com uma expressão clichê, mas...precisamos falar de Carol Naine. É urgente. Caso o leitor ainda desconheça este nome, que já aparece impresso na capa de dois discos independentes, apresse-se em acessar a voz, a música e o lirismo desta carioca radicada em São Paulo. Para saber quem é Carol não é preciso mais que uma atenta audição de seu novo disco ‘Qualquer pessoa além de nós’. Ao longo de 11 faixas, entre composições próprias e parcerias com Luciana Elaiuy (que também assina sozinha a faixa ‘Feminina’), o universo da artista se revela através de suas letras inteligentes, não apenas pelo teor lírico e verdadeiro, mas também pelo incrível mimetismo com as harmonias que as conduzem.

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A primeira canção, ‘Às senhoras e senhores’ abre caminho para a abordagem de pautas fortes do nosso século XXI, debruçadas sobre a sutileza da harmonia que emociona. Desafio os ouvintes a discordar do que Carol fala. Em 'Dizputa', outra canção de destaque, Carol mostra sua marca: alitera, transforma palavrão em palavra, e assim manda a sua letra. Não à toa foi escolhida pela artista como 'single' deste trabalho, e com justiça está disputando o Prêmio da Música Brasileira este ano, na categoria de Melhor Canção. Seus concorrentes? Ninguém menos que Tom Zé e Zeca Pagodinho.  A faixa 'Rio' é um depoimento sincero de uma carioca egressa que nenhum conterrâneo 'da gema' irá contestar. Versar sobre o Rio de Janeiro há de ser em alto nível, e assim Carol o faz. Passando por uma auto-proclamada 'Canção clichê', onde a artista se sai bem melhor que este que vos escreve (lembra do primeiro parágrafo?), o disco alcança seu tom maior de feminilidade e - por que não dizer - feminismo com a sequência de canções "Você não é Deus", "Feminina" e a emocionante "Feito Maria". Pra fechar essa conta, "22 de Abril" e "Mitou" conectam nosso passado e presente, deixando praticamente desenhado para os maus entendedores como fomos conduzidos ao nosso momento atual. E apesar destes pesares, o disco acaba em clima de Frevo, ressaltando o competente trabalho de Alexandre Vianna, que além de assinar os arranjos e direção musical, acompanha Carol no Piano e Teclados, junto com Rafael Lourenço (bateria), João Benjamin (contrabaixo acústico) e Marcio Forte (percussão).

O Brasil precisa falar de Carol Naine, que evidencia ser uma das melhores artistas surgidas recentemente na música brasileira. É urgente que seu trabalho seja - e será - um dos mais notórios e admirados por aí.

Website: http://carolnaine.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/dacarolnaine/

Gabriel Borges é metido a músico, cervejeiro, viajante e outros bons prazeres da vida.